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Cerca de 500 metros separam as casas em que viveram os meninos Bernardo Élis Fleury de Campos Curado e José Jacinto Pereira da Veiga. O segundo nasceu dia 2 de fevereiro de 1915; o outro, nove meses depois, em 15 de novembro do mesmo ano. E as casas ainda existem na parte tombada da histórica cidade de Corumbá de Goiás. O primeiro era de origem nobre, das oligarquias goianas; o outro, plebeu, gente comum. Eram dois tipos de gente que não se misturavam com muita facilidade. Eles dois, contudo, cultivaram grande amizade desde a primeira infância. E ambos seguiram o caminho da literatura, um com o nome de Bernardo Élis, o outro com o de José J. Veiga.
Veiga nasceu na fazenda Morro Grande, onde seu pai era agregado, um tipo de relação em que o trabalhador paga com produção pelo uso da terra. A propriedade 146 ficava no limite daquele município com o de Pirenópolis, às margens do córrego Baião, e por isso há disputa sobre sua naturalidade. Mas o que vale é o registro em cartório, que foi em Corumbá.
Quando o menino tinha seis anos, a família foi morar na cidade, onde seu pai, Luiz Pereira da Veiga, virou pedreiro na construção civil. Dessa atividade, pelo resto da vida, tirou o sustento para a dezena de filhos que teve com sua mulher, Maria Marciana Jacinto, dona de casa humilde, de parca instrução, mas o suficiente pra alfabetizar o filho José, ainda na roça. Um preferiu ficar em Goiás e cursar direito na capital do estado. O outro foi para o Rio de Janeiro, onde atuou na imprensa, nos jornais O Globo, Tribuna da Imprensa e Seleções Reader’s Digest. Nesse tempo, também passou quatro anos no exterior, trabalhando em Londres, na Inglaterra. Um, o nobre, virou comunista e chegou a ser preso pelo regime militar pós-64.
O outro, o pobre, um democrata, também crítico da ditadura, inclusive em sua literatura, por meio de alegorias que inventava pra combater o regime autoritário. Um virou membro da Academia Brasileira de Letras, o outro sempre recusou convites pra disputar vaga na própria ABL e em outras entidades desse tipo. Considerava-as elitistas, excludentes, seletivas e, ademais, era avesso à ritualística desses ambientes, como revelam seus escritos e depoimentos de amigos. “Acho ridículo!”, dizia ele, segundo o crítico literário Álvaro Costa e Silva.
De qualquer modo, ele aceitou o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia pelo conjunto de sua obra, O Causo eu Conto 147 em 1997, menos de dois anos antes de sua morte. Prêmios, aliás, ele colecionou muitos durante sua carreira e os tinha como importantes reconhecimentos ao desempenho da atividade literária.
Trecho do livro "O causo eu conto", de Jaime Sautchuk
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